segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Sobre as lagartas



No dia 6 de agosto de 2009, o sr. Alexandre Alter Wainberg, cientista pesquisador de renome internacional, morador de Tibau do Sul há muitos anos, enviou para alguns seus conhecidos e em cópia para o IBAMA e o IDEMA a seguinte mensagem:

Prezados colegas,
Este é um pedido de socorro ao manguezal da lagoa de Guaraíras, que está morrendo. Uma praga de lagartas pretas infestou as arvores que estão ficando peladas. Não sei se as lagartas são causa ou efeito mas, com certeza, a ocorrência está relacionada com algum desequilíbrio ambiental. Mais de 250 hectares já foram afetados.
Vejam as fotos anexas.
Qualquer informação é útil.

A mensagem foi repassada adiante e em poucos dias a noticia se espalhou na Internet. Foi assim que o sr. Luiz Eduardo Carvalho Bonilha, Superintendente do IBAMA/RN, achou importante responder à mensagem dessa forma:

Fato similar ocorreu nos manguezais em Florianópolis, precisamente na Costeira de Pirajubaé dentro da RESEX de Pirajubaé, após grande impacto ambiental de um "exagerado" aterro para duplicação da Rodovia, infelizmente com Licença Ambiental. As lagartas após 1 ou 2 anos passaram a consumir o manguezal que ficou confinado entre os aterros... Pelo que me consta o fenômeno não foi duradouro. Quem esteve a frente das pesquisas com a lagarta em SC foi a Professora Clarisse Panitz, da UFRN, especialista em Manguezais e Marismas. Não sei ao certo se conseguiram associar as causas ao aterro, mas é possível que sim. Como a nossa colega Juliana Zagaglia do IBAMA/RN disse ter presenciado o fenômeno em todo o RN, é possível que o desequilíbrio aqui possa estar associado a outro fenômeno, como a desestabilização das relações presa - predador, como a própria Juliana indica... lembrando o
fato notório de que hoje a maior parte dos predadores de lagartas está morbidamente encerrada em gaiolas, comendo só alpiste e derivados.... Talvez realmente seja mais um problema de Educação (Ambiental), ou falta dela.... Pelo momento acredito que o melhor é não intervir ecologicamente na situação, pois a tendência é a recuperação do equilíbrio.

Depois disso o sr. Luiz Eduardo Carvalho Bonilha escreveu, com cópia para uma lista de e-mails sempre maior, para a Dra. Clarice Maria Neves Panitz, que estudou um fenômeno parecido em Florianópolis (Pirajubaé), para consultá-la a respeito da infestação, porém até agora a lista não recebeu nenhuma resposta da pesquisadora de Santa Catarina.


Sempre atento, o vereador Manoel Messias não perdeu tempo e, quando a noticia começou a correr de boca em boca, logo informou a Câmara Municipal da anomalia, entretanto não tendo informações para formular um requerimento mais claro.
Ontem, 13 de setembro, após um mês sem alguma novidade, o sr. Jack Demilia, do Núcleo Ecológico da Pipa, escreveu para o sr. Alexandre pedindo uma atualização em relação ao problema, e a lista inteira recebeu hoje de manhã a seguinte mensagem:

O ciclo da infestação terminou com as larvas se transformando em mariposas brancas com cerca de 2 cm. É incrível como um bichinho tão pequeno pode afetar uma floresta inteira. Algumas arvores começam a apresentar folhas novas, outras não. É cedo para dizer como o ecossistema evoluirá. Vários professores da universidade, IBAMA e IDEMA estiveram por aqui para ver o fenômeno, mas ainda não tive nenhum retorno deles.
Na minha opinião, baseada somente no meu conhecimento de ecologia e da região, acho que o mangue já estava sensível devido aos impactos crônicos como o assoreamento e a poluição da lagoa de Guaraíras. Então, algum fator momentâneo pode ter sido o gatilho que desencadeou o processo. Um fato interessante é que o ataque ocorreu somente sobre uma espécie de mangue, a lagunculária, deixando as outras intactas. Não tenho como identificar o gatilho mas, coincidentemente, a Usina Estivas estava aplicando seus químicos com aviões. Este tipo de aspersão aérea dispersa os venenos além da área agrícola. Os herbicidas usados na cana são seletivos, matam somente alguns tipos de planta.

Por enquanto é isso.

Um comentário:

Barbara disse...

Na entrada da minha pousada tenho trés pés de Chapeu de Napoleão que sofrem periodicamente este fenomeno, ficam completamente pelados, perdem as folhas e do lagarto surge uma mariposa totalmente branca.
No primeiro ano tentei combater com inseticida mas quando mais usava mais apareceram.
Como as arvores se recuperaram sozinhas e brotaram com mais abundancia ignoro hoje esse acontecimento.
Tambem tenho que observar que em alguns anos a praga parece com mais força de que em outros e sómente acontece nesta planta especifica.
Não sei se isso ajuda no problema dos maguezais, mas queria registrar este fato aqui